Eles

Ao fim de dois meses nenhum deles tinha avançado para o contacto físico e emocional. Quem teria de dar o primeiro passo, era notório que se gostavam, muito possivelmente teriam algo em comum, mas até que ponto a sua timidez não deitaria tudo a perder?
Dia de chuva intensa, um forte vento soprava de norte, levando consigo todas as folhas que um zeloso empregado municipal tinha varrido para a sarjeta.

Ele espera no local habitual pela sua amada, viria ela hoje? Pensava, enquanto tentava proteger o ramo de rosas vermelhas desajeitadamente escondido por baixo da gabardina.

Ela surgiu ao fundo no meio da multidão, linda e altiva como todos os dias anteriores, vinha na sua direcção com o olhar colado no dele. A luz do amor que ela emanava era perfeita para iluminar um dia escuro como aquele. Ele só tinha olhos para ela, ela caminhava na sua direcção sempre com o olhar preso no dele, nada mais interessava, nada mais era visível, a multidão desaparecera apenas estavam eles ali, apenas a via a ela e ela a ele. Estava perto a uns míseros quatro metros, os seus olhos não desviavam um do outro, podia sentir o seu perfume, era hoje, sim hoje, era hoje. Ele deu um passo na sua direcção, olhava para ela, a chama do amor estava cada vez mais acesa. Ela continuava a fluir na sua direcção. De repente desapareceu, que aconteceu? Para onde terá ido? Terá visto que ele afinal não era o seu amor, que ele era um errante na vida, um falhado que até agora não tinha tido a coragem de lhe dirigir a palavra? Muitas pessoas acorreram ao local de onde ela tinha desaparecido.

NÃO, era uma passadeira ela fora atropelada, ali jazia inerte sem vida, o seu perfume continuava a emanar do seu corpo ainda quente. Ele ficou petrificado o seu grande amor tinha desaparecido para sempre e ele nunca tinha tido a coragem de sequer lhe dizer um bom dia. Acabava assim um grande amor…