terça-feira, maio 09, 2006

Templo

Caros amigos, tive hoje o privilégio de me ter de deslocar ao Templo a fim de tratar de um assunto, esse lugar mítico várias vezes apelidado de “centro de resolução de problemas, centro de simpatia e atenção”, etc.

Logo pela manhã saí de minha casa e entrei no meu automóvel, foi dentro desse veiculo que demorei cerca de 30 minutos a chegar ao local tão apetecido, eis-me então chegado ao ponto onde irei tratar do meu assunto o local mais espectacular da cidade de Lisboa, é claro que como bom Português que sou tratei logo de encontrar um estacionamento o mais perto possível da porta, de preferência mesmo dentro do edifício, após 5 voltas ao quarteirão e 2 discussões com os arrumadores sobre lugares vagos, uma delas deu-me direito a ter de acelerar rapidamente senão ainda tinha de entrar no confronto físico com um deles, repensei a minha estratégia e consegui estacionar a dois quarteirões de distância.

Iniciei então um pequeno trajecto pedonal até ao tão apetecido local, encontrando-me eu neste exercício físico e estando a admirar uma montra de material aerodinâmico, vejo-me na situação de confronto “borrachal” entre a sola de borracha da minha sandália e um dejecto ( mais conhecido por cagalhão) deixado por acaso por um dos muitos canídeos (mais conhecidos por cães vadios) que circulam pelas ruas de Lisboa, pelo aspecto e tamanho do dejecto, diria que o animal era mais um burro que um caniche, logo a partir daquele instante houve uma transformação no meu ser, deixei de andar direito e comecei por baixar a cabeça e rosnar, o meu andar deixou de ser altivo para passar a ser parecido com o do corcunda de Notre Dame e claro a minha perna deixou de ser um auxiliar para eu caminhar e passar a ser algo que estava a mais no meu corpo e que não fazia falta nenhuma.

Continuava eu no meu caminho, agora coxo tal era a diferença de solas entre as sandálias, isto depois de deixar um rasto de merda pelo passeio todo atrás de mim, quando ao levantar a cabeça, o espanto e a exclamação se fixaram no meu rosto, era chegado ao Templo, ali estava eu á porta, o meu coração começou a acelerar e a pulsação disparou, tinha chegado.
Com medo entrei na boca do lobo a visão era pacifica, pessoas de todas a idades de todos credos e cores a correr de um lado para o outro com papeis na mão, campainhas ecoavam em todos os cantos, dezenas de cadeiras ocupadas por pessoas cansadas, fustigadas da “guerra” de papeis, o calor era imenso o ar condicionado estava desligado, que emoção era então ali que eu iria tratar do meu assunto, lindo...

Primeira coisa a fazer saber onde era o balcão para o qual eu me devia dirigir, ali á minha esquerda estava o balcão das informações, mas claro um bom português não questiona ninguém sobre a direcção a tomar, ele sabe sempre para onde ir e quanto tempo demora a chegar, olhei em volta e na parede lá estava um mapa de todos os balcões disponíveis, li o mapa de alto a abaixo e por fim lá encontrei ficava no piso zero, após andar as voltas no piso zero durante 15 minutos eis-me chegado ao balcão pretendido, era exactamente ao lado do balcão das informações, mas eu tinha conseguido chegar lá sem a sua ajuda, ou não fosse eu um homem um português, estava orgulhoso de mim mesmo tinha chegado ao meu destino.
Ao chegar ao local olhei em redor á procura da famosa makina de senhas, vislumbrei-a ao fundo, linda, imponente, após tropeçar em duas criancinhas e de pedir desculpa por seis vezes, isto por ter pisado os calos a alguém, eis-me então chegado junto da makina das senhas, dois eram os botões em que eu poderia carregar mas qual escolher???? Optei pelo A, mas ao fim de algum tempo e para não perder nada de mais retirei também a do B, claro um homem nunca perde a hipótese de ter muitos papéis na mão.

A senha A tinha o numero 125 e a B o 156, ao olhar para o visor vejo que a espera ia ser grande e aguardei..., Olhei novamente para as senhas e vejo que têm escrito “hora prevista de atendimento”, mas como raio é que os gajos sabem o tempo que eu vou demorar no balcão? Será que está alguém lá atras do balcão com uma bola de cristal e de cada vez que alguém retira uma senha ele olha para a bola e questiona: “bola de cristal diz-me tu quanto tempo vai demorar este anormal?”, e esse tempo é então adicionado na senha, mas como estamos já habituados a esperar eu lá esperei também.

Esperei, esperei, esperei, gaja boa a passar, esperei, esperei, gaja boa a passar, esperei, esperei, até que surge o numero 156 da senha B, comecei a dirigir-me para o balcão e claro como bom português que sou a sorte estava do meu lado, a luz falhou desligando o sistema informático, lá esperei mais uns 10 minutos até que a luz voltou, que bom ia ser atendido, mas agora faltava a pessoa para me atender, olhei para o relógio e claro está, estava na hora do cafezinho da manhã, foram mais uns 15 minutos de espera, em que todos os presentes aproveitaram para mimosear o único trabalhador presente com alguns nomes que ele poderia utilizar para dar aos filhos, caso os tenha.

Por fim lá surge a pessoa para tratar do meu assunto, fui atendido e como sempre tenho de lá voltar ainda esta semana para continuar a tratar do assunto, mas mesmo assim tive o privilégio de entrar e estar no local mais anti-burocrático, mais simpático, mais rápido no tratamento de qualquer assunto, virei as costas ao balcão com a consciência do dever cumprido e feliz comigo mesmo por ter esta oportunidade de voltar a este lindíssimo local, afastei-me até sair da porta e... sim estava fora da loja do cidadão.

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